Pão com molho

Dias estranhos. 

Fico sabendo da morte de uma amiga. Não tão próxima, mas muito, muito querida. Meu coração aperta.

Saio para andar com a minha cachorra e sinto um vento fresco. De repente, os primeiros acordes de 2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, de Strauss, bem alto, tomam conta da rua. Procuro de onde vem o som. Vem da igreja! Uma noiva e seu acompanhante aguardam a porta abrir ao som incrível que me remete ao filme. Uau! Que atmosfera na rua de casa, escura, vazia, com essa música tocando alto. Mas dura pouco. Logo começa a marcha nupcial e a porta abre.    

Uma mulher está na calçada logo a minha frente e me diz: "Puxa, ela não vira pra trás pra gente ver quem é, né? Deve ser famosa!!!". E eu pergunto: "Por que a senhora acha isso? Não tem nem seguranças na frente da igreja. Algumas meninas só estão ali, curiosas... Deve ser alguém que mora aqui no bairro mesmo...". Ela me olha, bemmmm decepcionada, e diz: "Ah é! Pode ser mesmo." E segue pro bar da esquina pra tomar a sua cervejinha com amigos. 

Eu também sigo com a Tuca pela rua sentindo o vento e ouvindo a marcha se distanciando. E por alguns instantes, o coração apertado deu uma afrouxada, pois me distraí com as músicas, a senhora, o casamento. Como a vida é louca. Alguém morre num canto da cidade, no outro uma moça se casa. Sem contar os nascimentos. E todo o sofrimento que esse vírus vem causando, não só por aqui, mas no mundo inteiro.

Sou e sempre fui "poliana". Estou sempre tentando ficar bem, olhar o lado positivo de tudo, manter a esperança, ser feliz hoje e com o que tenho... Aí uma amiga compartilhou comigo um ciclo de palestras chamado "Festival Saber Viver". Grátis. Com participantes bem legais. Me inscrevi. E assisti à maioria das palestras. Falou-se muito de propósito, de viver o hoje sem pensar no amanhã, de zerar as expectativas... Ah, também recomendaram meditação, e a maioria citou a leveza como o segredo do sucesso (o meu mantra pra tudo na vida há alguns anos é leveza! - claro, busco o tempo todo, mas nem sempre consigo!).

Aí me recomendaram assistir ao filme "O Segredo - Ouse Sonhar", em cima do famoso livro homônimo da Rhonda Byrne lançado em 2006. Sucessão de vendas, saiu na época junto com um documentário, foi uma sensação. Sensação que eu não senti nem segui. Não li nem vi o doc na época. E até hoje. A história se baseia na lei da atração e afirma que o pensamento positivo pode criar resultados de mudança de vida, tais como o aumento da felicidade, saúde e riqueza. E que isso é científico: de certa forma, um campo magnético, um ímã que atrai coisas boas ou ruins.

Meu filho acha tudo isso uma bobagem, enganação, distração etc. Eu não acho não. Mas também não sou defensora ferrenha. Só sinto que não custa nada pensar no bom, fazer o bem. E se tá tudo bem comigo e eu tô me sentindo OK agindo assim, que mal tem pensar que a máxima "gentileza gera gentileza" funciona, né? Que tudo o que a gente faz pro outro de bom volta pra gente, quem sabe até em dobro!??? Rio desse pensamento pueril. Mas que não é de poucos. Tem muita gente pensando, sentindo e agindo assim por aí. Gente de bem, do bem, inteligente, estudiosos do assunto, de comportamento, de energia, de vida.

Ao meditar, a gente também pensa assim. Em vibrar energia positiva para todos, para o mundo, pro ambiente que nos rodeia, pras pessoas que nos cercam. Durante a pandemia, entrei de cabeça na meditação. Graças ao isolamento, consegui meditar com mais frequência. Não, não sou daquelas que acorda sempre na mesma hora, estende o tapetinho e vai meditar. Medito em diversos horários, posições, lugares. Mas medito. É o que importa, né? E me faz bem, sempre que consigo. 

Mas entre as minhas caminhadas com a cachorra, a meditação, o filme, as celebrações do amor e da partida, fico me sentindo meio que transportada para um filme daqueles que eu via na Mostra de Cinema aos vinte e poucos anos e não entendia absolutamente nada. Eram tantos momentos desconexos e eu esperava ansiosa o final, pois achava que ali eu ia entender tudo. Acabava e nos créditos eu ficava com aquela cara "ah, super, grande, filmaço, cabeça!" sem entender bulhufas.

Ando vivendo assim meus dias. Dias estranhos. E o prazer eu acho em coisas bobas, recordações, sensações... 

Quem me conhece sabe que não gosto muito de cozinhar. Mas, no domingo, não tem jeito. Ou cozinho, ou não como. Minha filha não come. Minha mãe não come. Aí é muita culpa pra administrar. Por isso me rendo e vou pro fogão. Fiz um molho de tomate que ficou (PASME!) de-li-ci-o-so! Elogiado! Sobrou. Comecinho da noite e fiquei com fome. Meu filho comprou pão. Taí... esquentei o molho, aquele restinho, coloquei numa tigelinha e comecei a mergulhar os pedaços de pão nele... 

Me senti teletransportada pros domingos por volta de onze e meia, meio-dia, no apartamento da avenida Angélica esquina com a Higienópolis onde morei com a minha mãe dos seis aos 33. Dos seis aos dez, era religioso. Minha mãe fazia o molho do macarrão e quando estava quase pronto, cheirando a casa toda, me chamava pra vir comer pão com molho. Que gosto bom!



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