Qual a possibilidade de você estar andando na rua, à noite, saindo do trabalho, e se deparar com um defunto coberto com aquele papel brilhante, tipo "alumínio"?
Eu achei que era bem pequena. Mas, noite dessas, foi o que me aconteceu.
Descia distraidamente a avenida e notei uns policiais parados na calçada, logo à minha frente, meio que fazendo uma "filinha" de lado. Pensei comigo: "Acho que estão esperando o ônibus...". Mas não tinha um ponto de ônibus ali. Aí notei que mais umas duas pessoas estavam também com eles, um senhor no celular, uma mulher sentada no degrau da portaria do prédio, com uma expressão vaga, olhar distante...
Tudo tão estranho.
Quando passei ao lado deles, percebi que tinha aquele papel brilhante ("alumínio") no chão, atrás dessa espécie de barreira de policiais, balançando com o vento. E então notei que havia um corpo embaixo do tal "papel".
Claro que não parei de andar. Mas me deu um calafrio. Que sensação mais incômoda, que surreal, encontrar um corpo ali, na calçada, "escondido" por policiais. O inevitável vem naturalmente... Mil perguntas, difíceis de responder:
- Como morreu?
- Quem será?
- Foi suicídio?
- Será que morreu de frio? (não estamos no inverno, hipótese descartada)
- Overdose?
- Infarte?
- Aquelas pessoas são parentes? Amigos? Testemunhas?
- Foi morto? Assassinado?
Ainda me sentindo meio mal, incomodada por ter "cruzado" com um morto na calçada, e tentando (só em pensamento) desvendar quem era, como morreu etc, vejo um cachorro bem grande, peludo, deitado na calçada a alguns metros.
Lindo! Parecia um tapete felpudo (daqueles que eu sempre quis ter e não tenho porque minha cachorra faria xixi nele).
Ele estava ali, sozinho, com a coleira solta ao seu lado.
Chegando mais perto, uma senhora bem simpática veio caminhando na "nossa" direção com um outro cachorro na coleira. E apenas com seu olhar, sorridente, me fez entender que aquele cachorrão lindo e deitado no meio do caminho era dela.
Logo compreendi o que tinha acontecido. E disse a ela: "Cansou!".
E ela respondeu: "Cansou".
Segui meu caminho pensando que, talvez, a resposta que eu tanto procurava desde que vi aquele corpo, morto, poderia ser essa.
Seis letras.
Flexão do verbo cansar na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo.
Cansou.
Eu achei que era bem pequena. Mas, noite dessas, foi o que me aconteceu.
Descia distraidamente a avenida e notei uns policiais parados na calçada, logo à minha frente, meio que fazendo uma "filinha" de lado. Pensei comigo: "Acho que estão esperando o ônibus...". Mas não tinha um ponto de ônibus ali. Aí notei que mais umas duas pessoas estavam também com eles, um senhor no celular, uma mulher sentada no degrau da portaria do prédio, com uma expressão vaga, olhar distante...
Tudo tão estranho.
Quando passei ao lado deles, percebi que tinha aquele papel brilhante ("alumínio") no chão, atrás dessa espécie de barreira de policiais, balançando com o vento. E então notei que havia um corpo embaixo do tal "papel".
Claro que não parei de andar. Mas me deu um calafrio. Que sensação mais incômoda, que surreal, encontrar um corpo ali, na calçada, "escondido" por policiais. O inevitável vem naturalmente... Mil perguntas, difíceis de responder:
- Como morreu?
- Quem será?
- Foi suicídio?
- Será que morreu de frio? (não estamos no inverno, hipótese descartada)
- Overdose?
- Infarte?
- Aquelas pessoas são parentes? Amigos? Testemunhas?
- Foi morto? Assassinado?
Ainda me sentindo meio mal, incomodada por ter "cruzado" com um morto na calçada, e tentando (só em pensamento) desvendar quem era, como morreu etc, vejo um cachorro bem grande, peludo, deitado na calçada a alguns metros.
Lindo! Parecia um tapete felpudo (daqueles que eu sempre quis ter e não tenho porque minha cachorra faria xixi nele).
Ele estava ali, sozinho, com a coleira solta ao seu lado.
Chegando mais perto, uma senhora bem simpática veio caminhando na "nossa" direção com um outro cachorro na coleira. E apenas com seu olhar, sorridente, me fez entender que aquele cachorrão lindo e deitado no meio do caminho era dela.
Logo compreendi o que tinha acontecido. E disse a ela: "Cansou!".
E ela respondeu: "Cansou".
Segui meu caminho pensando que, talvez, a resposta que eu tanto procurava desde que vi aquele corpo, morto, poderia ser essa.
Seis letras.
Flexão do verbo cansar na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo.
Cansou.
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